Na maioria das escolas, os estudantes passam anos cumprindo tarefas definidas por outras pessoas e quase não decidem sobre a própria aprendizagem. Para muitos, a primeira escolha aparece apenas na hora do vestibular, quando a autonomia ainda não foi treinada. O resultado é previsível: pouca clareza sobre interesses, pouca prática para lidar com incertezas e poucas ferramentas para experimentar caminhos de forma segura.

Por que isso é importante?

Decidir é parte do aprender. Na prática, porém, a escola costuma treinar execução, não decisão. Por isso, muitos jovens chegam à vida adulta sem repertório para planejar, priorizar e lidar com incerteza. Além disso, quando o estudante escolhe o que, quando e como aprender, o esforço ganha sentido e o engajamento cresce. Consequentemente, a autonomia se fortalece e a aprendizagem se torna mais contínua.

O que está em jogo

A experiência da Red Bridge, uma escola K–8 em San Francisco fundada em 2020, ilustra esse caminho. Antes de tudo, o currículo convida cada aluno a responder três perguntas essenciais.

Em primeiro lugar, o que quero aprender. Interesses genuínos viram projetos de aprofundamento. Por duas semanas a cada trimestre, os alunos fazem “mergulhos profundos” que podem terminar em um mercado escolar, com apresentação de produtos e aprendizados. Desse modo, o vínculo entre interesse e produção real aumenta o sentimento de autoria.

Em seguida, quando e como vou aprender. Além de um bloco diário de estudo autônomo, os docentes ensinam explicitamente gestão do tempo e definição de metas nas rotinas da manhã. Assim, técnicas de organização se conectam ao planejamento individual e transbordam para outras iniciativas dos alunos.

Por fim, o nível certo de desafio. As turmas são organizadas pelo grau de independência e a progressão ocorre por níveis de responsabilidade. O próprio estudante solicita a promoção, reúne evidências de prontidão e cumpre tarefas para avançar. Caso a promoção não venha de primeira, ele aprende com o retorno e tenta novamente. Com isso, resiliência e senso de responsabilidade se tornam parte do processo.

Como responder a esse desafio

Para adotar essa lógica, escolas precisam ajustar estruturas e papéis. Antes de mais nada, vale reservar tempo regular para planejamento, metas e revisão pelo próprio aluno, combinando esses momentos com aulas conduzidas pelo professor. Além disso, trilhas guiadas por interesse devem ter critérios públicos de qualidade e profundidade, evitando escolhas aleatórias. Também é essencial definir níveis de responsabilidade e processos transparentes de progressão, com o aluno protagonizando o pedido de avanço. Nesse arranjo, o professor atua como orientador estratégico: ajuda a avaliar riscos, consequências e caminhos, oferece feedback qualificado e ensina técnicas de estudo, enquanto mantém intencionalidade no conteúdo.

O que você precisa saber
  • A escola quase não treina a tomada de decisão dos alunos sobre a própria aprendizagem;

  • A proposta coloca o estudante escolhendo o que, quando e como aprender e o nível de desafio;

  • Há rotinas estruturadas: estudo autônomo diário, ensino explícito de gestão do tempo e metas e “mergulhos profundos” de 2 semanas por trimestre;

  • A progressão ocorre por níveis de responsabilidade, solicitada pelo aluno e baseada em evidências;

  • Resultado: mais autonomia, autoria, engajamento e resiliência, com o professor como orientador estratégico.

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