O Brasil voltou a aparecer em uma posição desconfortável nos rankings internacionais de educação básica. Segundo os dados mais recentes do Programa Internacional de Avaliação de Alunos, referentes ao PISA 2022 e divulgados no final de 2023, o desempenho dos estudantes brasileiros em matemática segue abaixo da média global, inclusive entre jovens com maior vantagem socioeconômica.
Esse dado é relevante porque desloca o debate. Quando até estudantes com mais acesso, tempo de estudo e estrutura apresentam dificuldades, o problema deixa de ser apenas social e passa a ser pedagógico e cognitivo.
Por que isso é importante
O PISA não avalia a capacidade de repetir fórmulas decoradas. Em vez disso, ele mede se o estudante consegue interpretar situações do cotidiano, escolher estratégias e aplicar conceitos matemáticos em contextos não familiares. Ou seja, trata-se de raciocínio, não de memória mecânica.
No caso brasileiro, uma parcela significativa dos alunos não atinge níveis básicos de proficiência. Com isso, fica evidente a dificuldade em usar matemática de forma funcional. Mesmo entre estudantes de famílias com maior renda, o desempenho permanece abaixo da média internacional, o que sugere que o desafio não está apenas no acesso ao conteúdo, mas na forma como ele é trabalhado.
Além disso, essa limitação tem efeitos diretos. A matemática sustenta áreas como ciência, tecnologia, engenharia, economia e análise de dados. Da mesma forma, ela influencia decisões cotidianas, desde finanças pessoais até a interpretação de informações públicas. Quando essas habilidades não se consolidam, o impacto aparece tanto nas oportunidades individuais quanto na capacidade coletiva de desenvolvimento.
O que está em jogo
Manter desempenho baixo em matemática ao longo do tempo impõe um custo estrutural ao país. Nesse cenário, a dificuldade em sustentar raciocínio quantitativo limita inovação, produtividade e tomada de decisão baseada em evidências.
Ao comparar com outros países, fica claro que a diferença não é apenas técnica. Ela envolve cultura pedagógica. Sistemas que priorizam memorização e repetição tendem a formar estudantes preparados para reconhecer padrões, porém inseguros diante de problemas novos. Em um mundo orientado por dados e incerteza, esse tipo de formação se mostra insuficiente.
Ainda que existam avanços pontuais, o progresso gradual observado em algumas edições do PISA não resolve o núcleo do problema. Sem mudar a lógica do aprendizado, os ganhos tendem a ser lentos e frágeis.
Como entender esse fenômeno
Uma leitura cuidadosa dos dados mostra que a matemática permanece como o principal gargalo, mesmo quando há progressos modestos em leitura e ciências. Isso indica que o ensino ainda privilegia procedimentos em vez de raciocínio integrado.
Pesquisadores em educação apontam que melhorar resultados exige mais do que ampliar carga horária ou intensificar conteúdo. Nesse sentido, é necessário reorganizar práticas de ensino, valorizar o erro como parte do processo e criar situações em que o estudante precise explicar, justificar e sustentar o próprio pensamento.
O Brasil já iniciou políticas de recuperação da aprendizagem e incorporou diretrizes mais focadas em competências. No entanto, o impacto dessas medidas depende de continuidade, adaptação às realidades locais e, principalmente, de mudanças na forma como aprender matemática é compreendido na prática escolar.
O que você precisa saber
O Brasil segue abaixo da média global em matemática no PISA 2022, inclusive entre alunos mais favorecidos.
A avaliação mede aplicação de conceitos em contextos reais, e não apenas memorização.
O baixo desempenho indica fragilidade no desenvolvimento do raciocínio matemático.
Embora existam avanços, eles ainda não alteram o núcleo do problema pedagógico.
Melhorar resultados passa por repensar como os estudantes aprendem a pensar, não apenas quanto conteúdo recebem.