Os dados mais recentes do PISA trouxeram um incômodo que vai além da desigualdade social. No Brasil, mesmo estudantes de famílias com maior renda e acesso a boas escolas apresentam desempenho em matemática abaixo da média internacional. Ao mesmo tempo, o país registra avanços graduais ao longo dos anos, evoluindo mais rápido do que várias nações em determinados ciclos da avaliação. Ainda assim, o patamar geral segue baixo.
Essa combinação revela algo importante. O problema não é apenas estagnação. É um tipo de progresso que não atinge o núcleo da aprendizagem.
O ponto cego dos dados
Quando o acesso deixa de ser a principal variável, a pergunta muda. Se alunos com estrutura, tempo de estudo e apoio continuam encontrando dificuldades, o desafio está menos em onde se estuda e mais em como se aprende.
Por que isso é importante
A matemática avaliada pelo PISA não mede domínio de fórmulas isoladas. Ela observa a capacidade de interpretar situações, formular estratégias e aplicar conceitos em contextos não familiares. É um teste de raciocínio, não de repetição.
No Brasil, grande parte do ensino de matemática ainda privilegia treino mecânico e reconhecimento de padrões. Isso cria estudantes eficientes em resolver exercícios semelhantes aos vistos em aula, mas inseguros quando o problema muda de forma ou exige leitura cuidadosa. O avanço nas notas indica mais exposição ao conteúdo, mas não necessariamente mais compreensão.
Mesmo entre alunos de alta renda, esse modelo se mantém. Mais aulas, mais simulados e mais material ampliam o contato, mas não garantem transferência de conhecimento. O resultado é uma sensação de preparo que não se sustenta diante de situações novas.
O que está em jogo
Quando estudantes com mais recursos também ficam abaixo da média internacional, o problema deixa de ser apenas social e passa a ser estrutural. O sistema consegue produzir volume de estudo, mas tem dificuldade em formar confiança no raciocínio.
Isso gera um efeito acumulativo. Alunos avançam de série com lacunas pequenas, mas persistentes. Ao longo do tempo, essas lacunas se somam e tornam conteúdos mais complexos difíceis de sustentar. O estudante estudou muito, mas não consegue explicar o próprio pensamento.
Reconhecer que o Brasil evoluiu no PISA é importante. No entanto, essa evolução não resolve o ponto central. Aprender matemática exige mais do que exposição e treino. Exige método, reflexão e espaço para erro produtivo.
Como entender esse fenômeno
Pesquisas em psicologia cognitiva mostram que aprender matemática depende de elaboração, comparação de estratégias e análise de erros. Quando o ensino ignora essas etapas, o estudante acumula procedimentos, mas não constrói entendimento transferível.
O desempenho de alunos ricos no PISA reforça essa leitura. Melhorar resultados passa menos por ampliar recursos e mais por repensar práticas pedagógicas, tipos de atividade e o papel do raciocínio ao longo do processo de aprendizagem.
O que você precisa saber
O Brasil evoluiu no PISA ao longo dos anos, mas ainda permanece abaixo da média internacional em matemática.
Mesmo alunos de alta renda apresentam desempenho inferior ao de estudantes de outros países.
A avaliação mede raciocínio e aplicação de conceitos, não apenas memorização.
Mais acesso e mais aulas não garantem compreensão profunda.
O desafio central está no modelo de aprendizagem, não apenas no nível de investimento.