Eles deveriam receber mais apoio. No entanto, os dados mostram o contrário: estudantes com deficiência continuam sendo mais punidos, menos desafiados academicamente e, muitas vezes, excluídos das possibilidades de sonhar com o ensino superior. Esse é um padrão estrutural, não acidental, que atravessa fronteiras e se repete tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil.
Por que isso é importante?
O acesso desigual a conteúdos desafiadores limita o desenvolvimento acadêmico e a autoestima. Quando a escola pune um estudante com mais frequência e oferece menos estímulo, constrói-se uma expectativa de fracasso. Assim, a instituição deixa de ser ponte e se transforma em barreira.
A preparação para o ensino superior deveria ser um direito e não uma concessão seletiva. Inclusão não significa apenas presença física em sala, mas também acesso real ao currículo e às oportunidades. Portanto, falar em inclusão real exige superar a lógica da adaptação mínima e construir uma escola que prepare todos, com e sem deficiência, para o mesmo futuro.
O que está em jogo
Nos Estados Unidos, novas análises de dados públicos revelaram um padrão preocupante: quanto maior a proporção de estudantes com deficiência em uma escola, maior a taxa de suspensões. Ao mesmo tempo, essas escolas oferecem menos acesso a disciplinas que preparam para a faculdade, como álgebra, biologia e física.
Entre os alunos analisados, 17% tinham deficiência, mas concentraram 25% das suspensões. Enquanto 85% dos estudantes sem deficiência cursaram álgebra, apenas 65% dos estudantes com deficiência tiveram essa oportunidade. Menos currículo desafiador hoje significa menos chances de ingresso e sucesso no ensino superior amanhã. Esse funil torna-se ainda mais estreito para estudantes negros e latinos com deficiência, pois deficiência, raça e renda se somam para ampliar barreiras.
No Brasil, o cenário repete a mesma lógica. Embora a Lei Brasileira de Inclusão garanta matrícula em escolas regulares, muitos estudantes com deficiência ainda são tratados como exceção e não como parte integral da vida acadêmica. A falta de suporte adequado, expectativas reduzidas e abordagens disciplinares punitivas contribuem para trajetórias mais limitadas. Além disso, a mediação pedagógica falha, a formação docente insuficiente e a gestão do comportamento, muitas vezes, recorre à exclusão silenciosa, afastando o aluno em vez de acolhê-lo.
Esses números não representam apenas estatísticas; eles revelam escolhas institucionais sobre quem recebe apoio, quem é disciplinado e quem é preparado para o futuro.
Como responder a esse desafio
Garantir acesso efetivo ao Atendimento Educacional Especializado (AEE) e a planos individualizados de aprendizagem é fundamental. Da mesma forma, revisar políticas disciplinares para priorizar práticas restaurativas, assegurar matrícula e permanência em álgebra, ciências e itinerários formativos, além de investir na formação docente para adaptações curriculares e avaliação justa, são passos essenciais. Inclusão é expectativa alta com suporte real, não presença simbólica.
O que você precisa saber
Estudantes com deficiência recebem mais punições e menos acesso a disciplinas preparatórias;
O impacto aumenta quando deficiência se cruza com raça e desigualdade social;
Álgebra, biologia e física funcionam como portas de entrada para o ensino superior — sem elas, as trajetórias se fecham;
Inclusão não é presença: é participação no currículo, com expectativas altas e suporte adequado;
Padrões institucionais de disciplina e oferta de currículo explicam desigualdades e podem ser corrigidos por políticas escolares.